Eu e o carnaval da minha terra
Por Nilson Magno Baptista
Nasci na “Coronel José Dutra”, na época conhecida como “Rua do Sarmento”, nossa principal via pública, onde minha família residiu até 1962. Era a década de 1950 e tive o privilégio de testemunhar, ainda muito criança, os memoráveis desfiles carnavalescos que na época eram ali realizados. Pela Coronel José Dutra desfilavam nossas escolas de samba, ainda com um número bastante reduzido de participantes, mas que se apresentavam com garbo e entusiasmo. Eu vibrava quando a Unidos do Caxangá se aproximava da “Ponte do Jeremias”, vindo em direção à Praça Dr.Carlos Alves, com aquele seu característico rufar de tambores firme e cadenciado, que fazia meu coração bater mais forte. Nesse tempo eu tinha por volta de oito/nove anos. Outra lembrança inapagável em minha memória se refere às espetaculares “Batalhas de Confete”, que o Jornal “Voz de S.João” classificava como “sesquipedal”, cujo significado é: “extremamente grande, descomunal, imenso”, e isso fazia sentido devido à grande quantidade de confetes e serpentinas que era lançada sobre os foliões. Era um volume tão grande que chegava à altura de quase cinquenta centímetros, cobrindo os paralelepípedos (formato das pedras) do calçamento.
Aqueles confetes e serpentinas as crianças – incluindo eu, é claro – recolhiam do chão e lançavam novamente sobre as pessoas. As marquises e sacadas dos prédios em toda a extensão da rua ficavam repletas de moradores e entusiastas das “Batalhas”, que não economizavam na quantidade de confetes e serpentinas adquiridos no comércio da cidade, consumindo todo seu estoque. Via-se também pelo chão frascos vazios de “Lança-Perfume”, cuja venda naquela época era liberada. Assim, a “Rua do Sarmento” ficava extremamente colorida e cheirosa.
No final da década de 1970, como colaborador do nosso tradicional órgão de imprensa, a “Voz de S.João”, fui responsável por uma grande polêmica ao escrever um comentário em que eu dizia: “A Rua do Sarmento já não comporta o grande número de foliões que ali se acotovelam para assistir aos desfiles e participar das “Batalhas de Confete, e que deveríamos, sem perda de tempo, encontrar um novo local.” A mudança de local forçosamente acabou acontecendo em 1981 quando o prefeito Antônio Cavalheiro inaugurou o “Calçadão da Coronel José Dutra”.
Outros locais foram testados como a nova “passarela” do carnaval, passando pela Rua Domingos Henriques de Gusmão; pelo lado de cima da Praça Barão do Rio Branco, até chegar à atual Avenida “Tancredo Neves”, de onde não saiu mais.
O carnaval de São João, depois de dois anos sem acontecer, infelizmente por causa de uma pandemia , voltou a ser realizado este ano, não ainda com sua força total, mas muito animado, seguro, organizado e com variadas atrações de qualidade. Foi responsável pelo evento a Fundação Municipal José Luiz de Carvalho Nunes (FUNZÉ), tendo como um dos principais organizadores o Diretor de Cultura, Aldo César Torres, que não mediu esforços para atender as demandas das agremiações carnavalescas e demais envolvidos no espetáculo. Foi um carnaval muito animado, porém tranquilo e seguro, que agradou à maioria das pessoas da cidade e aos visitantes.
Sobre o local onde funciona a chamada passarela do samba “Luiz Quinino de Freitas”, na Avenida Tancredo Neves, enviamos, no dia 24/02/2023, à equipe técnica do prefeito Ernandes José da Silva, uma proposta/sugestão de readequação de toda a área onde acontece nossa festa maior, contemplando o trecho compreendido entre a praça Dr. Carlos Alves, a Avenida Tancredo Neves e parte da área que vai do Shopping Aliança até próximo à capela de Nossa Senhora Aparecida e entrada do Center Moda. Acreditamos que, com boa vontade por parte da administração, há possibilidade de que o próximo carnaval venha recheado de novidades, inclusive com a volta dos concursos de escolas de samba e blocos.
NOTA: A FOTO DE CAPA DESTA MATÉRIA, REPRESENTANDO UMA DAS DECORAÇÕES DE CARNAVAL DO TEMPO EM QUE OS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA ACONTECIAM NA RUA CORONEL JOSÉ DUTRA, FOI EXTRAÍDA DA INTERNET
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